O Senhor Jesus estava no templo, talvez no dia seguinte ao dos versículos anteriores, e falou com os fariseus e as multidões. Estava na tesouraria, a parte do templo onde as ofertas eram colocadas (versículo 20), onde se acendiam velas em candelabros brilhantes para simbolizar a coluna de fogo que conduzia o povo de Israel à noite pelo deserto (Êxodo 13:21, 22).
Neste contexto, o Senhor se chamou de Luz do Mundo. Como a coluna de fogo representou a presença de Senhor, proteção e orientação ao Seu povo, assim Cristo traz a presença de Deus, proteção e orientação aos Seus seguidores no mundo.
O SENHOR é chamado de Luz no Velho Testamento (Salmo 27:1, Isaías 60:19), e a reivindicação suprema e exclusiva de Cristo (repetida no capítulo 9:5) de ser a Luz do Mundo inteiro (de gentios bem como judeus) assustou os fariseus e desafiou a sua oposição.
Assim como a Palavra, Ele é identificado como a verdadeira Luz dos homens mais cedo neste Evangelho (capítulos 1:9 e 3:19), e Ele também chamou os Seus discípulos de luz do mundo (Mateus 5:14), mas essa era a luz refletida d’Ele: eles teriam a luz que vem trazendo com ela a vida eterna (capítulos 4:14, 6:40, 47).
Não podemos adorar Jesus sem aceitar a Sua divindade, pois este ato só é cabível sendo Ele o Filho de Deus. Ele deverá ser seguido: como Comandante, assim como um soldado obedece ao seu capitão; como Senhor, assim como um escravo serve o seu senhor; como Conselheiro, assim como quem se acha perdido segue o seu orientador; como Rei, assim como os seus súditos aprendem e obedecem as suas leis.
Os fariseus ponderaram que Ele estava dando testemunho de Si próprio, e de acordo com as regras sobre evidência entre os rabinos “ninguém pode dar testemunho de si próprio” (Mixná). Não era portanto verdade, nem pertinente. Jesus reconheceu esta necessidade técnica de testemunho adicional além das Suas próprias reivindicações (capítulo 5:19-30) e procedeu a dá-las (capítulo 5:32-47) mediante o testemunho de João Batista, do Pai, das Suas obras, das Escrituras, particularmente o de Moisés.
O Senhor ainda declarou que o Seu testemunho de Si próprio era verdadeiro, mesmo se infringisse as regras técnicas de evidência deles (como se alguém dissesse ao sol, se ele reivindicasse ser sol, que era noite, porque dava testemunho de si próprio: a evidência é o brilho do sol). Ele pôde e contou a verdade toda sobre Si próprio, porque sabia o que eles desconheciam: de onde veio, e para onde iria. Ele aludia, é claro, à Sua pre-existência com o Pai antes da Sua encarnação (capítulo 17:5) e ao retorno ao Pai depois da Sua morte e ressurreição (capítulo 13:3 e 14:2).
João Batista tinha dito: " no meio de vós está um a quem vós não conheceis” (capítulo 1:26). A Luz do Mundo tinha vindo, mas eles amaram a escuridão em lugar da luz (capítulo 3:19), porque as suas obras eram más, e “o deus deste século cegara os seus entendimentos para que lhes não resplandecesse a lua do Evangelho da glória de Cristo, o qual e a imagem de Deus “ (2 Coríntios 4:4).
Os fariseus pensavam que Jesus era um louco ou um mentiroso. Jesus lhes proporcionou uma terceira alternativa: Ele estava dizendo a verdade. Porque a maioria dos fariseus recusaram-se a considerar a terceira alternativa, eles nunca o reconheceram como Messias e Senhor. Só com uma mente aberta é que podemos reconhecer a verdade que Ele é Messias e Senhor.
Jesus os acusou de julgar conforme os padrões da carne (2 Coríntios 5:16). Qualquer julgamento que fazemos é segundo a carne: é limitado porque simplesmente não temos todos os fatos, e frequentemente não é mais que simples especulação. O Senhor Jesus disse que Ele não julgava de acordo com a carne. O Seu julgamento era do ponto de vista divino, do Pai que O enviou.
Depois de justificar o Seu direito de falar sobre Si mesmo, o Senhor levou a crítica técnica deles em conta e disse que a lei deles requeria duas testemunhas: Ele foi a primeira e o Pai que O enviou deu a Sua confirmação, sendo assim a segunda (Deuteronômio 19:15). Esses fariseus declaravam saber a lei (capítulo 7:49) e por isso Ele diz que a lei é deles (Ele usou a expressão “sua lei” outra vez nos capítulos 10:34, e 15:24). Ele não estava se separando da lei determinada por Moisés, mas sabia o espírito da lei (Mateus 5) enquanto que os fariseus só mantinham a sua letra. (O testemunho combinado de duas pessoas não era só verdade porque concordavam, mas tinha que ser verdadeiro em separado ).
Os fariseus então perguntaram "Onde está Seu Pai?" (O Senhor Jesus tinha chamado Deus de "meu Pai" em uma relação diferente da que temos com Ele pela fé em Cristo. Somos feitos filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, mas o Senhor Jesus é Filho porque é Deus o Filho, e se dirige a Deus o Pai). O testemunho de uma testemunha invisível e não ouvida não satisfaria a estes advogados religiosos.
Talvez os fariseus usaram a pergunta em dois sentidos: eles não perguntaram quem era o seu Pai, mas onde estava ele. Legalmente, o Seu pai seria José, seu padrasto (Mateus1:16; Lucas 3:23). Ele morava em Nazaré na Galileia (Lucas 2:4), foi chamado um "homem justo" e era um carpinteiro de profissão (Mateus13:55). Ele é mencionado por último na Bíblia quando da viagem da família para Jerusalém, quando Jesus tinha doze anos. É provável que tenha morrido antes do Senhor ter começado o Seu ministério público, pois não esteve presente no casamento em Caná. Como o Senhor deu a entender que seu pai vivia, eles queriam saber onde estava? Talvez José não era realmente o seu pai?
É claro que o Senhor estava se referindo a Deus o Pai, mas os fariseus não iriam admitir nem mesmo que esse pensamento lhes tivesse ocorrido. Ele então lhes disse que, se realmente O tivessem conhecido (Jesus), eles teriam sabido quem era o Seu Pai. Eles não conheciam nem um nem outro por causa da sua ignorância do Pai (capítulo 5:37-38). Antes Ele tinha dito que eles conheciam a sua residência em Nazaré, e negou que conhecessem o Pai que O enviou (capítulo 7:28). Os fariseus foram silenciados para o momento.
A tesouraria estava no pátio das mulheres, onde antes haviam trazido a mulher apanhada em adultério. Provavelmente era a parte mais pública do templo, não limitada às mulheres como a parte interna era aos homens. Nesta área havia sete caixas de coleta para o imposto do templo e seis para ofertas voluntárias.
Provavelmente foi no dia seguinte que Jesus falou novamente com os judeus, advertindo-os que iria para um lugar além do seu alcance. Eles iriam buscar o Messias desesperadamente quando já seria tarde demais (a tragédia do judaísmo de hoje - João 1: 11), e seguramente morreriam em seu pecado (Ezequiel 3:18; 18:18; Provérbios 24:9). Isso é a consequência natural do pecado. Desta vez eles zombeteiramente sugeriram que Jesus poderia se suicidar (veja capítulo 7:35).
Ele disse a esses rabinos arrogantes que a origem deles estava neste mundo de escuridão (capítulo 1:9) com todas as suas limitações, enquanto que Ele era de cima, como tinha dito João Batista (capítulo 3:31); era um contraste completo em origem e caráter. Eles morreriam nos seus pecados a menos que viessem a crer: "que Eu sou de cima" (versículo 23), "que eu sou o enviado do Pai (ou o Messias)" (capítulo 7:18, 28). "que eu sou a Luz do Mundo" (versículo 12), "que eu sou o Libertador do pecado" (versículo 36), "que EU SOU" no senso absoluto, o Nome do Senhor (Êxodo 3:14, Deuteronômio 32:39). A frase "que EU SOU" ocorre três vezes neste capítulo (versículos 24, 28 e 58).
Eles demandaram "Quem és Tu?": Jesus virtualmente tinha reivindicado ser o Messias e no mesmo nível que Deus (como em João 5:19-27), e eles queriam uma declaração clara de Sua parte para acusá-lo de blasfêmia. Em Sua resposta o Senhor evitou a palavra Messias com suas conotações políticas, mas manteve as Suas altas reivindicações.
Em vez de continuar falando sobre as Suas próprias reivindicações (já bastante claras) Ele declarou que tinha muitas coisas a dizer e julgar a respeito deles próprios (versículo 16). O Pai que O enviou é verdadeiro e eles não podiam evadir-se da responsabilidade pela mensagem que Ele havia trazido do Pai. Cristo sempre manteve que o que fazia e dizia era o que o Pai quis que fizesse e dissesse. Ele nunca apelou para a Sua própria mente ou intelecto.
12 Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.
14 Respondeu-lhes Jesus: Ainda que eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou.
15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.
16 E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou.
17 Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
18 Sou eu que dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou, também dá testemunho de mim.
19 Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.
20 Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.
21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu me retiro; buscar-me- eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir.
22 Então diziam os judeus: Será que ele vai suicidar-se, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir?
23 Disse-lhes ele: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
25 Perguntavam-lhe então: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Exatamente o que venho dizendo que sou.
26 Muitas coisas tenho que dizer e julgar acerca de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele ouvi, isso falo ao mundo.
Evangelho de João, capítulo 8 versículos 12 a 26